Indústria de tecnologia discute internet aberta a portas fechadas

Alguns provedores já disseram que o aumento do tráfego da internet é um fardo cada vez maior na infraestrutura da rede.
Um grupo da indústria que representa alguns dos maiores nomes da tecnologia reuniu-se a portas fechadas para discutir o futuro da internet aberta. Grupos de defesa dos consumidores afirmaram que tais negociações são prejudiciais. A reunião ocorreu depois da publicação de um controvertido plano do Google e da Verizon que poderia permitir aos provedores de acesso oferecer prioridade a determinados tipos de tráfego. Grupos de consumidores chamaram a proposta de “assassinato da internet”.
Na semana passada, cerca de cem pessoas protestaram diante da sede do Google na Califórnia para apresentar caixas nas quais afirmaram existir 300 mil assinaturas defendendo os valores da neutralidade da rede, um princípio fundador da internet pelo qual todos os dados que circulam na rede são tratados com igualdade, sem importar de onde vêm. O plano Google/Verizon sugere brechas para o tráfego de internet móvel e para alguns conteúdos específicos. Os manifestantes pediam para o gigante de buscas honrar seu famoso lema “não faça o mal”.
O modelo Google/Verizon foi anunciado depois que a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC) suspendeu suas próprias sessões privadas com companhias de internet e provedores de banda larga para discutir um consenso sobre o espinhoso tema da neutralidade da rede.
Um acordo é fundamental para as ambições do governo de fornecer acesso de alta velocidade para todos os americanos até 2020. Alguns provedores já disseram que o aumento do tráfego da internet é um fardo cada vez maior na infraestrutura da rede. Como alternativa, eles defendem, deveriam poder cobrar mais pelo uso intensivo da rede, como nas aplicações de vídeo em banda larga. Alguns críticos disseram que a neutralidade da rede pode sufocar a inovação.
Do outro lado do debate, os militantes dizem que a neutralidade da rede garante o acesso livre e aberto a todos. Argumentam que enfraquecer o conceito de neutralidade abre caminho para uma internet de duas pistas, onde a capacidade de pagamento poderia determinar que serviços as pessoas irão acessar.
Em meio ao impasse atual, a última reunião realizada pelo Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação (ITI), em Washington, tentou encontrar um caminho. O encontro envolveu representantes da Verizon, AT&T, Skype, Microsoft, Cisco e da Communications Workers of America.
Em um comunicado, o presidente do conselho, Dean Garfield, afirmou que “um grande progresso foi feito para desenvolver princípios da internet aberta nas últimas semanas”, mas é preciso mais esforço para “apoiar o setor e preservar o acesso à internet, a inovação e os investimentos”.
Do ponto de vista dos adeptos da neutralidade da rede, a notícia de uma outra “rodada de negociações secretas” é preocupante. “As conversações da indústria sem qualquer processo público ou que leve em conta o interesse dos consumidores não irão resultar numa boa política que promova o interesse da população”, disse Aparna Sridhar, conselheira da Free Press. “O desenvolvimento de normas abertas de internet é um trabalho que fica melhor se realizado na FCC, com participação ampla e publica de uma grande variedade de partes interessadas, e não em reuniões de empresas a portas fechadas.”
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