Assange quer mudar a sede do Wikileaks para o Brasil
O inimigo número 1 dos EUA na Internet, Julian Assange, que está preso há quase cinco anos na Embaixada do Equador, em Londres, sem que pese contra ele nenhuma acusação, concedeu por e-mail à Revista Fórum essa entrevista exclusiva onde revela que gostaria que wikileaks pudesse mudar sua sede para o Brasil.
“Os ativistas brasileiros deveriam lutar para criar um ambiente que seja ‘habitável’ para o WikiLeaks e nosso estafe (que proteja a criptografia e o anonimato na rede e o Marco Civil da Internet é um passo importante neste sentido) para que possamos mudar nossa sede para o Brasil.”
Essa entrevista foi intermediada pela Editora Boitempo, por onde Assange vai lançar a versão em português do seu novo livro, “Quando o Google encontrou o Wikileaks”, registro de um conversa entre ele, Eric Schmidt, presidente do Google e outros integrantes da corporação, realizada em 2011. Em breve, o blogueiro fará uma resenha da obra por aqui. Por ahora, fiquemos com a entrevista que está bastante interessante. A tradução para o português das respostas de Assange é de Vinicius Gomes.
Continue lendo aqui: http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/02/22/exclusivo-assange-quer-mudar-sede-wikileaks-para-o-brasil/
Especialista em GNU/Linux afirma que MS Windows e OS X são malwares
Quando o assunto é sistema operacional para PCs, há quem prefira o MS Windows, há quem goste do OS X, ou ainda aqueles que optam pelo GNU/Linux. Muito se discute sobre a segurança de cada plataforma, que, assim como qualquer programa, não estão imunes a ataques. Mas para Richard Stallman, fundador do projeto GNU e “guru” do GNU/Linux, os próprios sistemas podem ser sinônimo de malware.
É preciso deixar claro que não estamos falando de vírus de computador. O malware é uma expressão que tem origem nas palavras inglesas “malicious software” (programa malicioso, na tradução livre). Geralmente, este tipo de mecanismo se disfarça como uma ferramenta útil ao usuário, mas que acaba por comprometer o desempenho da máquina ao abrir brechas de segurança propositais no dispositivo.
Com base nesse conceito, o que Stallman afirma é que os sistemas operacionais mais populares do mundo, como MS Windows, OS X e Android são grandes ambientes virtuais que propiciam o acúmulo de malwares, mesmo involuntariamente.
“Que tipos de programas constituem malware? Sistemas operacionais, primeiramente. O MS Windows é bisbilhoteiro e prende os usuários [no PC], enquanto nos dispositivos móveis ele censura aplicativos. Ainda possui uma ‘brecha de segurança’ universal que permite que a Microsoft remova mudanças em software de forma remota. A Microsoft sabota usuários do MS Windows ao mostrar buracos de segurança para a NSA antes de consertá-los”, afirmou.
Stallman também deu um parecer nada positivo sobre os sistemas da Apple, dizendo que “o Mac OS bisbilhota e prende” e que o “iOS [além de tudo isso] também possui uma brecha de segurança” e censura determinados aplicativos.
Nem mesmo o Android escapa dessa. Segundo o especialista em GNU/Linux, o sistema operacional móvel do Google, embora utilize uma licença Apache 2.0 – que, tecnicamente, o coloca na condição de software livre -, contém malwares em sua arquitetura que podem ser usados como porta de entrada para forçar a instalação ou remoção de ferramentas remotamente por terceiros.
Outro ponto defendido por Stallman é que esse sentido de malware se estende para qualquer dispositivo inteligente, como carros e Smart TVs. Para ele, esses equipamentos podem facilmente ser utilizados para fins de espionagem por conta de recursos de reconhecimento facial e comandos de voz. Logo, podem apresentar risco à segurança dos usuários.
Apesar de Richard Stallman ser considerado um extremista em suas declarações, não podemos dizer que ele está totalmente equivocado em sua opinião sobre os sistemas operacionais. Mesmo que as empresas não confirmem tais brechas de segurança, fato é que hoje as pessoas estão mais preocupadas em manter suas informações mais protegidas e blindadas (ou quase isso) de possíveis ameaças virtuais, que entram justamente pelas plataformas de PC e mobile.
Na visão de Stallman, que afirma nunca ter tido um smartphone, a solução é rejeitar qualquer serviço online que possa rastrear seus dados, independentemente se a ferramenta for gratuita ou paga.
Fontes: The Guardian, The Register
ONG acusa empresa britânica de vender software espião a regimes opressores
ONG acusa empresa britânica de vender software espião a regimes opressores
O FinFisher permite ligar câmeras e microfones à distância, faz fotografias, monitora e-mails, mensagens de texto e chamadas de voz e é quase impossível de ser detectado.
Para a ONG Privacidade Internacional, trata-se de uma grande vitória na luta contra a venda ilegal de software espião. A Alta Corte de Justiça do Reino Unido decidiu que o Departamento de Receita e Alfândega (HMRC) – órgão responsável por controlar a regulamentação de exportações no Reino Unido – agiu ilegalmente ao se recusar a repassar à ONG informações sobre a investigação relacionada à empresa Gamma International.
Apesar de não possuir a licença de exportação, o famoso software espião (spyware) da Gamma, o FinFisher, está sendo usado, segundo a Privacidade Internacional, em no mínimo 36 países, incluindo alguns que possuem regimes repressores, como Egito, Bahrein, Etiópia e Turcomenistão.
O FinFisher foi desenvolvido na Alemanha e é essencialmente um vírus que se instala secretamente no computador ou celular. Ele possibilita a ligação de câmeras e microfones à distância, faz fotografias, além de monitorar e-mails, mensagens de texto e chamadas de voz, inclusive no Skype. Ele também pode rastrear a localização do aparelho.
O software é comandado por controle remoto. Seus criadores em Munique não responderam a uma solicitação de entrevista. Mas, no seu site, a empresa se gaba por empregar alguns dos melhores especialistas do mundo em “TI de intrusão ofensiva”.
“É quase impossível detectar o FinFisher. O que aconteceu nos exemplos que conhecemos é que as pessoas suspeitaram porque a infecção começou por um e-mail fingindo ser alguém que eles conheciam, e logo a máquina desligou, ou devido a um e-mail enviado para várias pessoas e, mais uma vez, viu-se algo desligar”, afirma o diretor de pesquisa da Privacidade Internacional, Eric Kingm, à DW.
Negócio ilegal
Através da análise digital forense, a ONG consegui determinar que o spyware instalado nos computadores de alguns ativistas era o FinFisher, e que ele estava passando informações para governos no mundo inteiro. Devido a seus componentes criptográficos, sua exportação a partir do Reino Unido sem uma licença do governo é ilegal.
Porém, há poucos anos, a organização já havia confirmado que nenhuma licença havia sido concedida à Gamma International. Em novembro de 2012, o grupo enviou ao HMRC, a pedido do governo britânico, um dossiê de 186 páginas com evidências de que a Gamma International havia exportado ilegalmente a tecnologia de espionagem.
O relatório contém o relato de Ala’a Shehabi, uma economista britânica nascida no Bahrein e ativista de defesa da democracia que foi presa por autoridades do país árabe com detalhes técnicos dos seus servidores.
“Agora a Alta Corte afirmou legalmente que as ações do HMRC eram ilegais. Eu espero que o governo tome providências para fazer justiça para as vítimas que tiveram seus direitos violados por causa de spywares intrusos”, diz Shehabi.
“Não conseguíamos nem mesmo ter a confirmação do HMRC de que eles haviam recebido as cartas, mas meses depois eles finalmente afirmaram que nós enviamos. Mas nós não sabíamos o que eles iriam fazer com elas, não tínhamos uma confirmação de que eles iriam investigar. Após uma longa correspondência, decidimos levá-los ao tribunal”, conta King.
E, nesta semana, a Alta Corte concordou com a Privacidade Internacional que as vítimas da espionagem, assim como o público, tinham o direito de saber o que o governo estava fazendo para que as diretrizes de exportação fossem cumpridas.
Roubo excluído
A Justiça considerou a recusa do HMRC em dar informações como irracional e simplesmente incompatível com a legislação.
“Estamos analisando as particularidades do julgamento. A revisão judicial confirma que só podemos revelar informações que a lei permite, e o HMRC continua comprometido com o dever legal do sigilo”, escreveu por e-mail um porta-voz do departamento, respondendo a uma solicitação de entrevista.
“O HMRC recebe informações de várias fontes, e nós sempre checamos qualquer alegação de delito criminoso”, completou. Mas, na resposta por e-mail, a principal preocupação da Privacidade Internacional, o comércio potencialmente ilegal de software espião, não foi abordada.
Para King, a ideia de que a Gamma International não tenha deliberadamente vendido o FinFisher para o Bahrein e outros países é implausível.
“É impossível que o software tenha sido roubado. Isso requereria meses de consultoria e contratos para saber onde colocar caixas específicas na rede, para ter certeza de que tudo funcionava corretamente. Isso requer uma quantidade considerável de instalações e ajustes. Se o Bahrein quisesse espionar pessoas usando o software e se fossem tecnicamente sofisticados para roubá-lo, eles poderiam ter simplesmente criado um para eles. Seria mais fácil”, opina King.
Fonte: DW
Comunicação Segura
Tendo como uma de suas principais bandeiras a privacidade, partidos pirata costumam trabalhar na conscientização e no empoderamento de todas as pessoas no que diz respeito a questões de segurança e a ferramentas seguras para os mais variados fins, para que possam se proteger de abusos por parte de governos e corporações, assim como combater a vigilância em massa. Sendo assim, colocamos aqui uma breve lista de aplicativos destinados à comunicação simples e segura nos movimentos sociais.
– Telegram: Um aplicativo para chat semelhante ao Whatsapp, com possibilidade de criptografia. Disponível para Android, iPhone/iPad, Windows Phone, Mac OS X, Windows e Ubuntu: https://telegram.org/
– Privnote: Esse site permite enviar notas que são autodestruídas depois de lidas: https://privnote.com/
– Mumble: Conversas criptografadas em áudio para conferências, disponível para Windows, Mac OS X e Linux: http://www.mumble.com/
– Ostel: Ligações telefônicas criptografadas usando conexão à Internet. O serviço encontra-se disponível através de programas que rodam em Android, iPhone/iPad, Blackberry, Windows, Mac OS X e Linux: https://ostel.co/
– ChatSecure: Chat com possibilidade de criptografia para Android e iPhone: https://chatsecure.org/
– TextSecure e RedPhone: O primeiro é um aplicativo para chat seguro, o segundo permite ligações criptografadas de ponta a ponta; ambos foram feitos para Android: https://whispersystems.org/
– Jitsi: Aplicativo para videoconferências, ligações e chat. Roda em Windows, Mac OS X e Linux: https://jitsi.org/
– Cryptocat: Chat seguro na forma de aplicativo para Mac OS X e iPhone, e como extensão para os navegadores Safari, Opera, Firefox e Chrome (esse aplicativo foi utilizado pelo jornalista Glenn Greenwald para falar com Edward Snowden pela primeira vez): https://crypto.cat/
– Hemlis: Iniciativa do pirata Peter Sunde, encontra-se em fase de teste e será lançado em breve para Android e Iphone: https://heml.is/
Uma observação importante: criptografia em meios de comunicação, garantindo que ninguém poderá ler ou escutar sua comunicação enquanto ela ocorre, depende das partes envolvidas usarem as mesmas ferramentas. Muitos desses programas criptografam suas mensagens automaticamente quando enviadas a contatos que possuem o mesmo programa instalado, enquanto alguns permitem que você possa escolher quando quiser realizar uma comunicação segura. Recomendamos também a proteção do aparelho celular através de senha e criptografia. Existem diversos manuais de segurança espalhados pela Internet.
Fonte: Mídia Pirata
Vendem-se: seu endereço, CPF e telefone
Você lembra da época da chamada “mala direta”, aquelas cartas inconvenientes com propagandas de lugares que nem sabíamos que tinham nosso endereço? Pois basta lembrar delas para perceber que, desde muito antes da Internet, a publicidade já explorava as poucas informações que conseguia sobre nós. Um cadastro com nosso nome, idade e endereço, feito em uma loja qualquer, já dava pistas sobre nosso maior ou menor interesse por determinado produto. Uma loja de skates, por exemplo, preferiria gastar suas correspondências tentando atingir seus clientes mais prováveis: jovens do sexo masculino.
Com a Internet, o mercado da publicidade ganhou uma dimensão muito mais complexa, mas o princípio continua o mesmo: quanto mais se sabe sobre você, mais fácil é deduzir se você pode ou não se interessar por determinado produto. Pouco se pensa sobre isso, mas é essa lógica que faz girar a economia no mundo virtual, e coloca em pé uma grande parte das aplicações que você usa: os serviços gratuitos, como aplicativos, buscadores, emails e redes sociais, atraem usuários e coletam seus dados pessoais. Mais tarde, esses dados vão servir para direcionar anúncios para você. Quanto mais informações pessoais suas uma empresa conhece, mais ela consegue acertar em ligar um produto às suas supostas preferências – e mais caro ela pode cobrar do anunciante.
E é imensa a quantidade de dados que deixamos por aí usando a Internet. Coisas que você curtiu, lugares onde esteve ou os amigos que se têm são informações que podem dizer muito sobre você. Foi por isso que o Marco Civil da Internet passou a exigir que a coleta desses dados só possa acontecer com o consentimento expresso do usuário.
Continue lendo aqui: http://blogs.estadao.com.br/deu-nos-autos/vendem-se-seu-endereco-cpf-e-telefone/
La NSA y los planes de distribuir spyware a través de la Play Store
Desde que Edward Snowden filtró la información sobre la NSA y los planes de espionajes a nivel mundial que la organización gubernamental estaba llevando a cabo de las telecomunicaciones no ha parado de aparecer nueva información sobre la organización y sus actividades. Aunque los primeros ataques contra la privacidad se centraban en ordenadores y conexiones a Internet, con el auge de los dispositivos móviles la organización no iba a quedarse atrás y ya tenía planes para poder controlar todos los smartphones de los usuarios.
Según la última información conocida sobre la NSA y el resto de organizaciones de espionaje de los países del grupo Five Eyes (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Nueva Zelanda y Australia) tenían planeado empezado a desarrollar y a distribuir software espía a través de las tiendas de aplicaciones como la Play Store de Android.
Continue lendo aqui: http://www.redeszone.net/2015/05/22/la-nsa-y-los-planes-de-distribuir-spyware-a-traves-de-la-play-store/
Em carta ao dono do Facebook, entidades em 30 países criticam Internet.org
O projeto do Facebook de criar um ‘jardim murado’ com acesso gratuito a aplicativos selecionados – especialmente a rede social – está claramente criando uma resistência organizada de ativistas pela liberdade de expressão e a neutralidade de rede. 65 entidades de 31 países – seis delas do Brasil – publicaram no próprio Facebook uma carta aberta a Mark Zuckerberg na qual questionam a iniciativa.
“O Facebook define a neutralidade de rede em declarações públicas de forma imprópria e está construindo um ‘jardim murado’ onde as pessoas mais pobres só terão acesso limitado a websites e serviços. Estamos muito preocupados que o Internet.org faça marketing enganoso de acesso à toda a Internet quando de fato permite apenas acesso a um número limitado de serviços aprovados pelo Facebook e provedores locais”, dizem as entidades na carta aberta.
Continue lendo aqui: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=39638&sid=4
Carta à Presidente Dilma Rousseff sobre o acordo com o Facebook
Na tarde desta quarta-feira (22), foi entregue à Presidência da República (além dos Ministérios da Justiça e da Cultura) uma carta, assinada por 20 organizações da sociedade civil (incluindo o IBIDEM) e 13 pessoas individualmente, a respeito dos graves problemas relacionadas à anunciada parceria entre o governo federal e o Facebook para promover o acesso à Internet no Brasil por meio do projeto Internet.org.
No documento, reproduzido integralmente abaixo, entre outros pontos, constam uma defesa dos “fundamentos e princípios basilares do Marco Civil da Internet, da Declaração Multissetorial do NETMundial e dos Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil do CGI.br“; um alerta sobre os riscos tanto da prática do zero-rating como da vigilância em massa por meio de empresas privadas como o Facebook; e o requerimento de que a Presidenta adote uma postura democrática e transparente e busque dialogar de forma aberta com a sociedade civil antes de fechar acordos desse tipo.
São Paulo, 23 de Abril de 2015
À Exma.
Presidente da República Federativa do Brasil
Sra. Dilma Roussef
Att.: Carta à Presidente Dilma Roussef sobre o acordo com o Facebook
Exma. Sra. Presidente,
As organizações e indivíduos abaixo assinados vêm por meio desta manifestar sua contribuição ao debate com relação ao recente anúncio realizado por Vossa Excelência durante a 7º Cúpula das Américas sobre o estabelecimento de uma parceria com o Facebook para a implementação do projeto “Internet.org” no Brasil.
Embora estejamos de acordo com o diagnóstico de que há um grande déficit na qualidade e na extensão do acesso à Internet fixa e móvel em países em desenvolvimento como o Brasil, consideramos que este projeto que vem sendo promovido pelo Facebook em diversos países da América Latina, África e Ásia, pode colocar em risco o futuro da sociedade da informação, da economia no meio digital e os direitos que os usuários usufruem na rede, como a privacidade, a liberdade de expressão e a neutralidade da rede.
Pelo que foi apurado sobre o projeto até o momento, acreditamos que, ao prometer acesso gratuito e exclusivo a determinados serviços e aplicativos, o Facebook está na verdade limitando o acesso à Internet aos demais serviços existentes na rede e oferecendo aos que têm menos recursos econômicos o acesso a apenas uma parte do que constitui a Internet, o que viola os fundamentos e princípios basilares do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), da Declaração Multissetorial do NETMundial e dos Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil do CGI.br (RES/2009/003/P), conforme elencamos a seguir:
- A lei nº 12.965/2014 que institui como fundamento do uso da Internet a liberdade de expressão, o reconhecimento da escala mundial da rede, a pluralidade e a diversidade, a abertura e a colaboração, a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor (art.2º), assim como reconhece os princípios da proteção da privacidade, a preservação e garantia da neutralidade de rede e a garantia da preservação da natureza participativa da rede (art.3º). Lembramos também que a referida lei estabelece como objetivo do uso da Internet o direito de acesso a todos, o acesso à informação, ao conhecimento, à participação na vida cultural e política, a inovação e a adesão a padrões tecnológicos abertos(art.4º);
- O Encontro Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Internet (NETMundial) reconheceu que a Internet é um recurso global que deve ser gerida pelo interesse público, e identificou um conjunto de princípios comuns e valores, dentre os quais gostaríamos de ressaltar o caráter de espaço unificado e não fragmentado, onde datagramas e informação fluam livremente de ponta a ponta independentemente de seu conteúdo legal, a proteção e promoção da diversidade cultural e linguística, a arquitetura aberta e distribuída, preservando o ambiente fértil e inovador, a promoção de padrões abertos consistentes com os direitos humanos e com o desenvolvimento e a inovação na rede, e a preservação de um ambiente favorável à inovação sustentável e à criatividade, reconhecendo o empreendedorismo e o investimento em infraestrutura como condições para a inovação;
- Os Princípios para a Governança e Uso da Internet do Brasil aprovados pelo CGI.br, o Comitê Multissetorial de Governança da Internet no Brasil, que buscam embasar e orientar ações e decisões com vistas à governança democrática e colaborativa, preservando e estimulando o caráter de criação coletiva da Internet, a universalidade, a diversidade, a inovação, a neutralidade e a padronização e interoperabilidade da rede.
Enfatizamos ainda que essa estratégia do Facebook e de outras grandes empresas, realizada em parceria com as operadoras de telecomunicações, representa uma grave violação da regra da neutralidade quando promove “acesso para todos” sob a máxima “internet grátis”. Esta prática que permite que apenas alguns aplicativos e serviços tenham privilégios na rede é conhecida internacionalmente como zero-rating (taxa zero) e, mesmo que possibilite o uso dos serviços mais populares, no longo prazo acaba gerando concentração da infraestrutura e monopólio sobre o tráfego de dados na rede, reduzindo tanto a disponibilidade de conteúdos, aplicativos e serviços na Internet, quanto a liberdade de escolha do usuário. Com isso, cabe perguntarmos como se espera que o Brasil desenvolva o setor de aplicativos, um dos mercados que mais cresce no mundo, se estes terão limitado seu acesso a grande parte da população.
O modelo proposto pelo projeto Internet.org tem também efeitos desastrosos para o desenvolvimento das culturas regionais, comprometendo o direito de acesso à informação ao violar outro princípio fundamental do Marco Civil e da declaração Multissetorial do NETMundial que é a liberdade de expressão. Em geral, plataformas como Facebook controlam por meio dos seus algorítimos e termos de uso os conteúdos e dados que circulam na rede, determinando de maneira centralizada e de acordo com critérios próprios e pouco transparentes os conteúdos mais visualizados pelos usuários. Tal cenário se agrava se lembrarmos que boa parcela da receita das empresas de Internet e operadoras de telefonia são hoje provenientes da venda de aplicações e conteúdos que acabam sendo fornecidos de forma imposta e verticalizada nos pacotes de serviços. A formação de conglomerados econômicos, devido ao processo de convergência dos meios de comunicação, tem feito com que as empresas que prestam serviços de acesso à Internet sejam as mesmas que fornecem conteúdos, gerando ainda mais concentração. Essa limitação do número de serviços e aplicativos disponíveis resulta no desrespeito ao direito de escolha dos consumidores e à livre concorrência, a limitação da diversidade cultural e o cerceamento do livre fluxo de informações na rede.
Não podemos esquecer ainda que a plataforma tecnológica do Facebook tem sido uma das principais portas para a vigilância em massa, colocando em risco outro importante princípio do Marco Civil e da declaração Multissetorial do NETMundial que é a privacidade dos cidadãos. A ausência de uma lei de proteção de dados no país agrava o problema e faz com que hoje os possíveis usuários dos serviços que serão disponibilizados pelo Internet.org fiquem vulneráveis aos interesses comerciais dessa plataforma e às pressões políticas que uma empresa com sede nos Estados Unidos está sujeita.
É por considerar que a universalização do acesso à Internet se dá a partir de políticas coerentes com a sua essencialidade, o que passa pela prestação do serviço de telecomunicações que lhe dá suporte também em regime público e pelo fortalecimento de políticas já existentes, tais como cidades digitais, provedores comunitários integrados a telecentros, pontos de cultura, GESAC, estações digitais e iniciativas de comunicação comunitária, que nos posicionamos veementemente contra o acesso privilegiado ao mercado e aos dados dos brasileiros que o Facebook pretende obter com seu projeto através do Internet.org. Dentre as excelentes alternativas internacionais que poderiam ser aproveitadas, cabe também mencionar o Plan Ceibal no Uruguai, que busca fomentar as redes livres, o GuifiNet, uma parceria entre sociedade, ONGs e governos, OpenWRT, Commotion Wireless, entre outros.
Por último, vale lembrar que o Brasil possui um enorme contingente de organizações e ativistas que vem atuando na promoção da inclusão digital. Ainda que nas políticas de acesso à banda larga o diálogo entre governo e sociedade civil não tenha se estabelecido de maneira satisfatória como ocorreu no Marco Civil, a aprovação da lei e seu processo de regulamentação são exemplares no incentivo à participação social e na existência de um canal efetivo de interlocução entre ambos os setores. A notícia de uma parceria com a empresa Facebook sem qualquer conhecimento prévio pela sociedade civil, no entanto, diverge da postura democrática, transparente e inclusiva que tem sido adotada nas decisões e discussões relacionadas ao Marco Civil da Internet.
Conforme o exposto acima, concluímos que é de extrema importância que se preserve o desenvolvimento da economia digital e que se garantam os direitos estabelecido pela Marco Civil da Internet assim como os princípios estabelecidos no encontro multissetorial Netmundial. Assim, as entidades ora signatárias requerem:
- Que não sejam firmados quaisquer acordos com a empresa Facebook no âmbito da sua iniciativa Internet.org que tenham como objeto o provimento de acesso grátis à Internet;
- Que quaisquer acordos que venham a ser firmados com a empresa Facebook – ou quaisquer outras empresas – respeitem os direitos positivados pelo Marco Civil, em especial o da neutralidade de rede; e
- Buscar a realização de amplo debate com a sociedade civil antes de fechar acordos desse tipo.
Desde já nos colocamos à disposição para um encontro presencial com Vossa Excelência para debatermos melhor o assunto e certos de sua habitual atenção, subscrevemos.
Alquimídia*
Artigo 19
Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital – ABCID
Associação Software Livre do Brasil – ASL
Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé
Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada*
Co:Laboratório de Desenvolvimento e Participação – COLAB/USP
Coletivo Digital
Coletivo Soylocoporti
Fora do Eixo*
Frente Acorda Cultura
Hacklab Independência
Instituto Bem Estar Brasil
Instituto Beta Para Internet e Democracia – IBIDEM
Instituto de Defesa do Consumidor – Idec
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Mídia Ninja*
Movimento Mega
PimentaLab – Unifesp
PROTESTE – Associação de Consumidores
Recursos Educacionais Abertos Brasil – REA-Br
Rede Livre
União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura – ULEPICC-Br
youPIX*
Anahuac de Paula Gil
Augusto César Pereira da Silva
Bruno Freitas
Camila Agustini
Raphael Martins
Diego Viegas
Hilton Garcia Fernandes
Iuri Guilherme dos Santos Martins
Marco Gomes
Raphael Martins
Reinaldo Bispo
Thadeu Cascardo
Thiago Zoroastro
(* Assinaturas inseridas após a entrega da carta à Presidenta Dilma Rousseff, por ocasião da entrega ao Ministro da Cultura, Juca Ferreira.)
Vale lembrar que, em entrevista a blogueiros promovida pela Fórum, Dilma Roussef afirmou que a conversa amigável com Mark Zuckerberg no Panamá não teria nada de concreto antes de junho, quando o fundador do Facebook viria ao Brasil para apresentar uma proposta inicial.
fonte: http://ibidem.org.br/carta-a-presidente-dilma-rousseff-sobre-o-acordo-com-o-facebook/